Antônio Jorge Nascimento dos Santos é professor na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, e nos concedeu esta entrevista, para recordarmos mais um pouco da história do Cabula como um antigo quilombo, e um pouco do seu processo de desenvolvimento.

O professor Antônio é morador do Cabula, morou no Cabula aparti da década de 70 quando foi inaugurado o conjunto Antônio Carlos Magalhães (Conjunto ACM), que na época era chamado Conjunto dos Bombeiros, o conjunto foi construído exclusivamente para os bombeiros, que na verdade a sede era na Barroquinha, O professor nos conta: “Não tinha o transporte publico com muita facilidade, então ônibus era muito raro, para que nos pudéssemos ir para o centro tínhamos que andar muito, era estrada de barro,a gente andava para pegar ônibus na Rotula do abacaxi, então era muito longe”.

Imagem do ônibus utilizado pela empresa de transporte na época concedida por Antônio Jorge.

 

Na época o condomínio era apenas para família de bombeiros, então eles abriam uma linha de credito na URBES que era um programa habitacional, onde os bombeiros assinavam um contrato, depois recebiam o apartamento e pagavam durante 25 anos.” Antônio se mostra muito satisfeito em falar do local onde mora, e acrescenta: Uma coisa muito positiva  é que foi ou talvez continue sendo o conjunto habitacional mais completo porque ele é composto de casas, apartamentos, uma escola municipal dentro, tem uma quadra de esportes, tem uma sede social, tem um campo de futebol e tem até hoje um final de linha, então assim, é o conjunto mais completo.

                                 

Fotografia da primeira visita do Bumba Meu boi, na escola que fica dentro do Conjunto ACM, Imagem: Antônio Jorge

Ele foi feito de forma que resistisse a pedreira, porque assim, bem próximo do conjunto tinha uma pedreira, só que ela era detonada por dinamite, quando dava meio dia tocava uma sirena, essa sirene era para os funcionários da pedreira, mas a gente também se alertava, principalmente quem morava nos prédios mais próximos da pedreira porque subia muitos pedaços de pedras e muitas vezes quebravam as janelas. ... ela foi desativada no final da década de 80... Na época tinha os moradores, os bombeiros e as lideranças, eles tinham uma luta para desativação da madeira por conta da dinamite,   você imagina todos os dias você tem dois pequenos terremotos, um meio dia e o outro cinco horas da tarde? E a pedreira ia chegando mais próximo, a pedreira ia chegando chegando mais próximo, então houve essa luta para a desativação.

O professor continua com o levantamento de sua memória na comunidade: “Mas aqui no Cabula nós tínhamos muitas fazendas, de mangas, fazendas, as laranjas hoje você não acha mais no Cabula ela era oficial, a chamada laranja de umbigo, hoje você não ver mais um pé dessa laranja,  por que tudo que tem semente germina e dar seus frutos... E outra, aqui já existia a rainha da laranja, ela era a produtora de laranja que tinha a maior quantidade de plantações e ela morava na subida da ladeira do Cabula e tinha uma casa antiga e alí era a casa da rainha da laranja, porque  as laranjas eram dela, tinha em maior quantidade, a que exportava mais, e temos essa memoria dela até hoje.”

Continuamos a nossa conversa, e o professor se mostra preocupado com a irrelevância que se é tratada as histórias da Comunidade, ele nos demonstra que se tem muita coisa boa nestas terras, mas que infelizmente não se é valorizado, e nos afirma:

“ A UNEB tem contribuído muito nesse quesito de estimular os alunos, (se tratando da busca pela história do Antigo Quilombo Cabula pelos grupos de pesquisa) e muitas memorias foram resgatadas, porque na verdade nós como moradores nunca tínhamos ideias mesmo da ancestralidade e quando eu ouvia falar dos Quilombos era na época do Beirú se chamar Tancredo Neves, então o nome Beiru sempre foi muito forte e tem pessoas que ligam o nome Beiru a uma espécie de Zumbi, soube que aqui tinha um Quilombo que ficava lá sediado, no Beirú, a partir desse momento que tiravam o nome Beirú e colocaram Tancredo Neves, acontece o apagamento da história da região e a quebra de sua ancestralidade , mas enfim... isso ocorreu... não precisava tirar o nome de uma história. Hoje a própria população passou a se mobilizar para ter o seu nome de volta, a medida em que  as pessoas começaram a ficar mais conhecedoras de sua própria história você vai se empoderando, os coletivos começaram a se organizar para pedir o nome de volta,  ainda não esta decidido, mas pelo menos a justiça decretou que nos ônibus incluísse o nome de Beirú. Como é uma coisa de negro ai não se tem tanta importância assim, talvez se fosse o contrario aí já o martelo já fosse batido.

Finalizamos a nossa entrevista com questionamentos a respeito da integraçao universidade - comunidade, onde o professor afirma que:

Sempre louvo as atitudes da professora Francisca, e do professor Alfredo porque esses profissionais que vão se formar (se tratando dos estudantes de graduação, mestrado e doutorado que trabalham no projeto sobre o Antigo Quilombo Cabula) eles terão outra cabeça, sabe, não é só esta em sala de aula e ficar reproduzindo as coisas, sem vivenciar nada... se poder vivenciar algumas coisas, faça! Começa a refletir, e ampliar a sua plataforma de conhecimento.

 

Entrevista por: Adriele Conceição e Késsia Santiago

 

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