Dona Hilda, moradora do bairro Saboeiro há 37 anos, relata seu orgulho em fazer parte do bairro... “Só não nasci aqui porque não tinha parteira aqui na época, aí meu pai alugou um quarto lá pela Praça da Sé, onde nasci. Assim que minha mãe se recuperou eu vim embora pra cá, e aqui fiquei praticamente até hoje.” Seu pai nasceu no Beco da Coruja e todas as suas primas também, sua mãe era da “cidade” (nome como era conhecido o centro de Salvador na época). Ela fala com saudosismo sobre as festas do bairro, a exemplo, a tradicional festa católica de Santo Antônio, que foi onde seus pais se conheceram. Ela expressa alegria ao recordar suas memórias do bairro, chamado por ela carinhosamente de “Meu Saboeiro”.

“Aqui não existia nada, só um armazém aí em cima e uma escolinha em que eu quando era criança me alfabetizei (onde hoje é a faculdade Bahiana). A UNEB era a fazenda de um doutor, nunca ouvi nenhum movimento na casa, só cachorro latindo.” Ela fala sobre a tranquilidade que existia: “Quando eu ia na delegacia, ali no São Gonçalo... quando eu dizia onde morava, ninguém sabia onde era o Saboeiro lá na delegacia, porque nunca tinha acontecido nada aqui que tivessem ido lá se queixar.”

Segundo Dona Hilda, onde hoje é o Hospital Roberto Santos existia uma bica e uma represa, coisas das quais ela sente saudade. “Hoje a bica já é esgoto. A represa, pouco a pouco o pessoal foi aterrando e também virou esgoto.” Havia muitas lagoas próximas ao Beco da Coruja e onde hoje é um dos caminhos que levam à Avenida Paralela e o outro lado; as lagoas se localizavam nesses lugares e nos arredores. “Próximo a essas lagoas existia um tipo de árvore que produzia uma espécie de espuma, aí as mulheres que vinham lavar roupa, diziam: - vou lavar roupa ali no saboeiro. Aí ficou Saboeiro.”

O nome Beco da Coruja veio do fato de existirem muitas árvores altas nas proximidades, onde ficavam muitas corujas. Mas, Dona Hilda relata, aos risos, que antigamente chamavam o local de “pau caído”. “Porque tinha uma tabatinga que para você subir a rampa, era uma tabatinga (um barro que escorrega, inclusive faz pintura pra casa com isso).” Tabatinga é uma palavra de origem tupi que significa argila mole, branca ou esbranquiçada; terra argilosa (Segundo Dicionário).

Apesar de ter morado boa parte da vida no Saboeiro, Dona Hilda também morou por 2 anos em Itapuã, quando a CHESF desapropriou vários moradores da região. Em Itapuã o seu marido fez um bar. Depois de dois anos, Dona Hilda quis voltar pra sua casa no Saboeiro. Ao retornar, percebeu que não podia mais plantar, pois a CHESF havia derrubado tudo, “só podia plantar andú e árvores baixas”; foi aí que ela e sua família resolveram lotear as terras. Com o dinheiro do loteamento, eles abriram duas estradas e duas travessas, o que impulsionou a urbanização do bairro. Antes do loteamento, sua renda vinha da “roça”, onde plantavam coqueiros, mangueiras, abacate, laranja, jaca, entre outras frutas. O destaque fica para as laranjas, que segundo Dona Hilda, eram conhecidas no mundo inteiro... “a laranja do Cabula”. O famoso laranjal abrangia toda a região do Cabula, Saboeiro, indo até a Sete Portas. Várias pessoas plantavam laranjas em suas propriedades.

Uma praga acabou com as laranjas, chamaram de “tristeza” o nome da praga. De acordo com Dona Hilda, ainda se acha algumas laranjas chamadas “do Cabula”. Eram vários tipos de laranjas e era costumeiro fazer doces com elas, principalmente com a casca da laranja. Atualmente está acontecendo a praga nas mangueiras, comenta Dona Hilda, preocupada com as mangueiras que possui no quintal da sua casa.

Era na feira onde as pessoas costumavam comercializar esses produtos. “Cinco horas da manhã a estrada parecia uma procissão com burro, jegue, carro de mão, mocó, saco, balaio”. Além de vender na feira, Dona Hilda também vendia suas frutas na porta de casa. Existia concorrência, pois muitos vizinhos também vendiam frutas. Além das frutas, Dona Hilda também comercializava mel, de um apiário que herdou do seu pai. Na época, era o único apiário da região, “Apiário Santo Antônio”.

Dona Hilda também foi dona de um bar, “Bar Oásis”, onde ela trabalhava com seus filhos e um rapaz que criou (filho do coração), teve o bar por 20 anos e o administrou sozinha (já separada na época). No início, o bar não tinha muitos clientes, até porque a região não era populosa. “Eu ficava “tocaiando” dois homens que passavam todo dia de manhã cedo (6h) e tomavam uma cachaça... eu ficava “tocaiando” para vender aquela cachaça”. Com a chegada de mais pessoas no bairro, Dona Hilda foi ampliando o seu negócio. Depois a sua filha resolveu abrir um restaurante, o “Corumbamba”.

 

Registro do Apiário

 

Por: Gabriela Sodré

    • CAPES
    • CNPq
    • fapesb
    • UNEB
    • ITCP/UNEB
    • Portal TBC Cabula